Quantos amigos mais teremos de ver partir e sequer poderemos prestar as últimas homenagens? Não estou dizendo que quem precisa trabalhar não o faça.
Ninguém em sã consciência vai defender a fome ao invés do risco de contaminação.
Mas o que é que justifica uma festa no meio de uma pandemia? O que justifica aglomerar para pedir a volta da ditadura militar? O que explica uma adoração irracional ao negacionismo?
Será realmente que esses jornalistas, políticos, empresários (que colocam os trabalhadores para a exposição e se trancam em suas casas) estão preocupados com você que vai se expor?
Eu queria estar fazendo muito mais. Queria poder ter como ajudar quem precisa, ter como estender a mão e socorrer todos os necessitados. Estou tentando, tem muitos tentando.
Mas ao perder um amigo, é inevitável não se revoltar em relação às omissões, as más ações e a irresponsabilidade. Da última vez que encontrei Leo, ele brincou que o vírus tinha medo de álcool e que o certo era tomar cana todo dia.
Rimos, debatemos problemas partidários, expusemos nossas críticas e insatisfações e nos despedimos rindo, brincando, como sempre.
Foi a última vez que nos encontramos. A noticia do falecimento chegou antes do que da internação. Ficam as boas lembranças, o aprendizado e a esperança de dias melhores.
Vá em paz, amigo. Continuaremos por aqui lutando por um mundo melhor, mais justo, onde as pessoas tenham condições dignas de vida.
E a nós que ficamos, se você pode, fique em casa. Se tem de trabalhar, tente se proteger. Não siga a hipocrisia dos que dizem que tem de abrir tudo e tem a sua disposição todas as proteções que faltam a nossa população em geral.
Por Flávio Moreira